“O exercício do dom de profecia na igreja atual”


LIÇÃO 06 – 10 de Fevereiro DE 2013


Texto Áureo

“Porque todos podereis profeti­zar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados”. 1Co 14.31

Verdade Aplicada

A profecia é um dom do Espí­rito Santo concedido à igreja para um fim proveitoso.

Objetivos da Lição

      Definir o dom de profecia;
      Apresentar alguns cuidados indispensáveis quanto ao uso do dom de profetizar;
      Mostrar que as profecias devem ser analisadas e quem profetiza deve ter a humildade para enfrentar isso.

Textos de Referência

1Co 14.29 E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.
1Co 14.30 Mas, se a outro, que estiver assentado, for re­velada alguma coisa, cale-se o primeiro.
1Co 14.31 Porque todos pode­reis profetizar, uns depois dos outros, para que todos apren­dam e todos sejam consolados.
1Co 14.32 E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.
1Co 14.33 Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.

INTRODUÇÃO
A falta de conhecimento dos dons espirituais deve ser combatida com o bom ensino. Lamentavelmente, nunca houve tanto desconhecimento acerca do dom de profecia como em nossos dias. Há questionamentos que vão desde os mais banais até os mais sérios. É impossível responder a todos numa única lição. Na verdade, precisaríamos de um livro inteiro para isso, mas trataremos aqui alguns principais.

A questão dos dons espirituais é sem dúvida um dos grandes temas abordados nas páginas de O Novo Testamento. É bastante importante, porque diz respeito à funcionalidade o Corpo de Cristo, que é a igreja. Falar a respeito dos dons ou carismas distribuídos pelo Espírito Santo é redescobrir a própria essência da comunidade cristã que surge das páginas do livro de Atos. Talvez seja o desconhecimento deste tema e de suas implicações para a vida cristã, que esteja privando tantos crentes de serem melhor usados pelo Senhor.
Falar sobre dons espirituais a partir da perspectiva das escrituras é muito difícil se não recorrermos às cartas paulinas. É nos seus escritos profundos e desafiadores que vamos entender a natureza íntima de tal tema. (Apostila de Estudos 8 – Dons do Espirito – Presb. Rafael Nimer)

1. O que é o dom de profecia?
O dom de profecia é uma dotação ou concessão especial e sobrenatural através do Espírito Santo. É uma capacidade divina sobre a vida dos cristãos, para missões especiais na execução dos propósitos divinos para e através de sua igreja. Stanley Horton, famoso teólogo pentecostal ensina que o dom de profecia é “como que faculdades da Pessoa Divina operando no ser humano”. É uma mensagem verbal inspirada pelo Espírito Santo para edificação, exortação e consolação da igreja de Cristo no mundo (1 Co 14.3)

O primeiro dom espiritual a ser mencionado neste trecho é PROFECIA (PROPHÊTEÍAN). Este dom é um dos mais repetidos nas listas anteriormente descritas. A função do profeta era transmitir as revelações divinas de significação temporária que proclamavam à igreja o que ela deveria saber e fazer em circunstâncias especiais. Sua mensagem era de edificação, exortação e consolação I Cor 14.3; Rom 12.8. Às vezes estas mensagens possuíam um caráter preditivo Atos 11.28; 21.10. Os profetas têm o segundo lugar de importância nos escritos de Paulo, logo depois dos apóstolos I Cor 12.28; Efés 2.20. Estes profetas da igreja primitiva frequentemente parecem ter sido pregadores itinerantes, indo de igreja em igreja, edificando os crentes na fé em Cristo, e instruindo as igrejas locais. Esses profetas do Novo Testamento exerciam o seu ofício exclusivamente através da escolha divina pelo exercício do dom carismático, o qual seria examinado e julgado pelos cristãos, conforme veremos posteriormente nas instruções de Paulo aos coríntios. Neste trecho de Romanos, a profecia deveria ser exercida “segundo a proporção da fé” 12.6. A Bíblia Anotada identifica esta expressão com o sentido de que as revelações transmitidas pelo profeta deveriam estar de acordo com a verdade já revelada. Neste caso a palavra “fé” seria tomada no mesmo sentido que lhe dá JUDAS em seu verso 3, quando nos conclama a “batalhar pela fé, de uma vez por todas entregue aos santos”. Aqui “fé” significaria o conjunto doutrinário elaborado a partir da pregação doutrinária dos apóstolos. Então a revelação profética deveria estar em conformidade com o ensino dos apóstolos. Este é o mesmo caminho tomado pelo comentário da Bíblia de Jerusalém, a qual dá a variante “segundo a norma da fé”, remetendo o leitor à I Coríntios 12.3, onde a “confissão de fé” constitui o sinal de autenticidade dos carismas.
Outra interpretação é a que identifica “segundo a medida da fé”, com o dever do profeta exercer o seu dom espiritual de conformidade com a sua proporção da fé, ou seja, de acordo com o seu desenvolvimento espiritual. (Apostila de Estudos 8 – Dons do Espirito – Presb. Rafael Nimer)

1.1. Uma ação direta do Espírito Santo (1 Co 12.3)
v3  Entretanto, será que o judaísmo não era algo bem diferente? Nele não havia um Deus vivo que falava e, por isso, também um conhecimento claro e uma ordem consciente da vida? Diversos membros da igreja provavelmente já olhavam com atenção para o judaísmo no tempo em que eram gentios. Agora em muitas igrejas perguntava-se se não teriam de pertencer a Israel para poderem pertencer corretamente a Jesus, o Messias de Israel. Justamente pelo fato de que para os antigos “gentios” era difícil opinar nesse ponto, “por isso vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: ‘Maldição sobre Jesus’.” Também na sinagoga de Corinto ocorreram “blasfêmias” por ocasião da pregação de Paulo (At 18.6). Naquele tempo as exclamações “maldição sobre Jesus” ecoavam no recinto quando Paulo falava de Jesus. E também agora a sentença sobre Jesus está estabelecida em todas as sinagogas: Jesus é o blasfemador executado com razão no madeiro maldito. Isso, porém, constitui a evidência segura de que aqui não se pode encontrar o Espírito de Deus.
Porque a atuação do Espírito leva exatamente no sentido oposto, conduzindo ao testemunho: “Senhor é Jesus.” Sim, “ninguém pode dizer: ‘Senhor é Jesus’, senão pelo Espírito Santo”. Durante muito tempo, ao longo dos séculos de tradição cristã, isso obviamente parecia não estar correto. Contudo justamente na atualidade começamos a compreendê-lo novamente. Nenhuma “pessoa sensata” é capaz de reconhecer que um artesão judaico, que acabou indefeso na cruz, insultado pelas pessoas e abandonado por Deus, deva ser o kyrios, o Senhor do universo, o Juiz de todos  os bilhões de pessoas. “Senhor é Jesus” – naquele que afirma isso com absoluta convicção atua o Espírito Santo. Porque precisamente essa é, conforme Jo 16.14, a obra mais própria e precípua do Espírito: glorificar a Jesus, mostrar Jesus com toda a sua glória. Por intermédio do Espírito Santo formula-se a confissão básica do cristianismo: “Senhor é Jesus.” Todas as demais “confissões” e “escritos confessionais” no cristianismo são apenas elaborações mais detalhadas e explicações dessa confissão fundamental. Ao mesmo tempo, porém, toda pessoa que for capaz de proferir essa confissão e ver no ser humano Jesus o kyrios tem o privilégio de, com gratidão e alegria, ter certeza de que o Espírito habita e atua em seu coração. E a igreja que vive nessa confissão é o lugar da presença do Espírito Santo (1Co 3.16). (Comentário 1 Coríntios - Esperança - Werner de Boor)

a. “Portanto, eu lhes faço conhecer.” Alguns estudiosos consideram os versículos 2 e 3 e seu conteúdo como um aparte e os colocam em parênteses. Mas a força do advérbio conclusivo, portanto remete ao versículo 2 e a todo o trecho antecedente (vs. 1, 2). Se entendermos esse versículo (v. 3) como uma declaração conclusiva, então vemos que Paulo descreve a condição espiritual dos cristãos gentios em Corinto. Isso não significa que tenhamos uma explicação para esse versículo que seja completamente satisfatória. Significa que no contexto coríntio nós podemos separar o passado (v. 2) do presente (v. 3). Paulo agora fala sobre a vida espiritual dos crentes em Corinto. Ele diz que vai tornar algo conhecido a eles (comparar com 15.1; 2Co 8.1; Gl 1.1).
b. “Ninguém que esteja falando pelo Espírito de Deus diz que ‘Je-sus é maldito’.” Paulo contrabalança essa afirmação com a declaração “e ninguém pode dizer ‘Jesus é Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo”. Se Paulo tivesse dado somente a segunda declaração, não teríamos de enfrentar dificuldades. Mas como ele escreveu ambas, a pergunta é se Paulo descreve ocorrências reais de Jesus ter sido amaldiçoado dentro da comunidade cristã local.
Quem são as pessoas que colocam uma maldição sobre Jesus? As respostas a essa pergunta são várias e variadas. (Comentário do Novo Testamento - 1 Coríntios - Simon Kistemaker)

1.2. Providência divina através da profecia
1 Co 14.1 No final de 1Co 12 Paulo havia dito de forma bem genérica: “Procurai os maiores dons.” É o que ele agora detalha com clara determinação por meio do convite: “Mas principalmente que profetizeis.” Chegou, assim, à questão realmente concreta que estava em jogo em Corinto. Qual é o dom do Espírito “mais valioso”, essencial e “maior”? Ao que parece, muitos em Corinto declaravam: é o falar com a “língua”. Paulo discorda com persistente seriedade, opondo ao “falar com língua” o “falar profético” como o efeito do Espírito singularmente importante. É isso que está em jogo em todo o presente trecho. Agora temos de mantê-lo diante de nós como um todo, a fim de penetrar num território que se tornou completamente estranho para nós.
v. 3  O que significa, em contraposição ao “falar em línguas”, o  propheteuein, o “falar profético”? “Quem fala profeticamente fala a pessoas edificação, exortação e consolo” [tradução do autor]. Essa sucinta frase revela de imediato que não se trata de um “profetizar”  no sentido corrente de predizer o futuro, como nós costumamos falar de “previsão do tempo” e coisas semelhantes. A palavra como tal aponta para os “profetas” da Antiga Aliança. Contudo entenderemos esses personagens de forma equivocada se os considerarmos tão somente como anunciadores de acontecimentos futuros. Em primeiro lugar sua tarefa era confrontar povo, sacerdotes e rei com todo o seu fracasso, toda a sua culpa. Deviam conclamar ao arrependimento. Precisavam chamar atenção para a santa vontade de Deus, ensinar, exortar e consolar. Unicamente no contexto dessa grande incumbência geral eles também precisam apontar para o futuro e ameaçar ou confrontar mediante determinadas revelações sobre o futuro. Quem, pois, falava como “profeta” na igreja não apenas tinha de prenunciar, como Ágabo, uma carestia, mas cuidar, como declara expressamente também o v. 3, da “edificação” por meio da “exortação e do consolo”.
O “falar profético” refere-se, pois, a um falar inteligível em palavras simples, dirigido e plenificado pelo Espírito de Deus, e por isso atingindo coração e consciência de pessoas. Seu conteúdo pode variar muito, de acordo com a incumbência de Deus. Porém seu objetivo sempre é a edificação da igreja como corpo de Cristo. (Comentário 1 Coríntios - Esperança - Werner de Boor)

v. 1. “Especialmente para que vocês possam profetizar.” Entre os dons espirituais está a profecia, que Paulo escolhe, agora, como um alvo de atenção especial. Anteriormente ele havia registrado esse dom entre osde fazer milagres e discernir espíritos (12.10; comparar também 12.28,29). Mas no contexto do capítulo 14 ele o compara com o dom de línguas e diz que prefere profetizar do que falar em línguas (v. 5).
Será que todos deveriam desejar com ansiedade a capacidade de profetizar? Obter esse dom depende, em primeiro lugar, do doador e, em segundo, do requerente. A soberania de Deus de dar ou reter não cancela a responsabilidade do homem de orar. Paulo pode insistir com os coríntios para que orem ansiosamente pelo dom da profecia, mas ele não lhes pode assegurar que Deus concederá o mesmo dom a todos eles (12.11). Seja qual for o dom que o Espírito Santo confere a um crente, ele precisa ser empregado com amor em benefício da igreja.
Além disso, observamos que sem o Espírito Santo uma pessoa é incapaz de profetizar. Enquanto Deus hoje convoca pregadores, professores e exortadores da sua revelação, Paulo recomenda a eles com insistência que respondam a esse chamado. (Comentário do Novo Testamento - 1 Coríntios - Simon Kistemaker)

1.3. A utilidade e proveito da profecia
1 Co 14. 6. Mas agora, irmãos, suponham que eu venha a vocês falando em línguas, que lhes aproveita a não ser que fale a vocês por revelação ou por conhecimento ou por profecia ou por ensino?
a. “Mas agora, irmãos.” Agora transmite não uma conotação temporal, mas lógica: “mas porque as coisas são assim”. Com base nas práticas da congregação, Paulo é desafiado a dar seu ponto de vista pessoal sobre as línguas. Ele se dirige aos coríntios com a palavra irmãos, que na forma de falar daqueles dias incluía as irmãs da igreja.
Com o uso do termo, Paulo se coloca no mesmo nível de qualquer um deles. Como a questão de falar em línguas é matéria sensível, Paulo tem de corrigir o pensamento e as ações das pessoas em Corinto, e precisa fazer isso de modo pastoral e terno.
b. “Suponha que eu venha a vocês falando em línguas.” Nessa primeira parte de uma sentença condicional, Paulo escreve uma cláusula que expressa suposição ou probabilidade; ao dizer “suponha” ele convida os leitores a lhe darem sua reação, caso ele aparecesse no meio deles falando em línguas. Ele tem toda intenção de voltar a visitá-los (16.5), mas não com o propósito de falar em línguas.
Paulo escreve a expressão línguas no plural, em vez do singular. Mais adiante ele testifica que tem a capacidade de falar em línguas mais do que qualquer um dos coríntios (v. 18), e novamente ele usa o plural em vez do singular. A expressão falando em línguas é uma forma abreviada da cláusula original “falar em outras línguas” (At 2.4).
Paulo recusa-se a falar com os coríntios em línguas, porque ele quer comunicar sua mensagem de modo inteligível (ver v. 19). Uma falta de comunicação significa uma falta de amor, e, no entanto o amor deve ser a marca registrada de todos os relacionamentos pessoais dentro da igreja.
Além disso, Paulo nunca se refere a falar em línguas “sem apontar que seu valor é inferior, e compará-la desfavoravelmente com a fala que é inteligível”.
c. “Que lhes aproveita, a não ser que [eu] fale a vocês por revelação ou por conhecimento ou por profecia ou por ensino?” A resposta que Paulo espera dos coríntios é negativa, a não ser, é claro, que ele os edifique com seus dons espirituais. Os dons que o Espírito Santo distribui têm o propósito de servir à igreja para que todos os membros possam se beneficiar deles. Consequentemente, quando Paulo finalmente chega a Corinto, ele vem para edificar as pessoas com mensagens inteligíveis de Deus.
Paulo entrega suas mensagens na forma de revelação, conhecimento, profecia ou ensino. Seria bom vermos essas quatro categorias como duas partes que se reforçam mutuamente:
Revelação e conhecimento profecia e ensino
No primeiro par, revelação pode ser considerada como significando, primeiro, os acréscimos ao Novo Testamento que estavam sendo desenvolvidos na época. Depois, pode referir-se a discernimentos da Palavra de Deus revelados aos apóstolos e profetas (Ef 3.5; Fp 3.15).
E, por fim, pode significar uma mensagem divina dada a Paulo (por ex., ir a Jerusalém para ver se o evangelho que ele pregava estava em harmonia com aquele dos apóstolos [Gl 2.2; comparar também com 2Co 12.1,7]). Paulo agora declara que ele divulga a revelação para o bem do povo de Deus. Assim também ele compartilha como os coríntios o conhecimento que se presume ser sobre Deus e sua Palavra.
O segundo par reforça o anterior. A profecia anda paralela com a revelação, e o ensino encontra seu correlativo no conhecimento. Um profeta é incapaz de profetizar sem uma revelação e um mestre não pode dar instrução sem conhecimento. Uma pessoa que recebe revelação e então profetiza é um porta-voz do Espírito Santo, e alguém que tem conhecimento e ensina os membros da igreja vivencia a ajuda do Espírito (12.8). E, por fim, a revelação e o conhecimento estão relacionados às posses interiores de uma pessoa, enquanto a profecia e o ensino são referentes às atividades exteriores de uma pessoa. (Comentário do Novo Testamento - 1 Coríntios - Simon Kistemaker)

2. Responsabilidades com o dom de profecia
A manifestação da Palavra profética deve ser resultado de uma busca do progresso da igreja (1 Co 14.12), por se tratar de uma enorme bênção espiritual, a profecia também vem acompanhada de grandes responsabilidades que envolvem a todos e simultaneamente o indivíduo em si. É preciso ser cuidadoso não somente com esse dom, mas com todos os dons que se manifestam nos cristãos pelo Espírito Santo. Não somente pelo juízo que experimentarão os irresponsáveis (Lc 12.48), mas sobre tudo pelo caráter de Deus em nós.

2.1. Todos podem profetizar na igreja?
1Co 14.31 “Pois todos vocês podem profetizar um por um.” Paulo está dando orientações sobre o culto ordeiro; ele não diz que em qualquer culto todos têm a oportunidade de falar. Isso seria uma contradição flagrante à insistência de Paulo sobre a conduta ordenada. Com seu preceito de que dois ou três profetas podem se dirigir ao auditório, ele dá a entender que, no passar do tempo, cada membro da igreja poderá profetizar. O Espírito de Deus não só está no controle da profe-cia, mas também dá a certos membros esse dom específico a seu próprio tempo. O Espírito determina quando um profeta já teve tempo suficiente e precisa ceder seu lugar a outra pessoa.
Benefícios. “Para que todos possam aprender e todos serem incentivados.” Ao longo de todo esse capítulo especificamente, Paulo repete o conceito edificar, embora com palavras diferentes. Aqui ele diz que a pessoa que profetiza deve fazer isso de modo que todos possam aprender “conversando, perguntando, falando, escutando”.
E, em segundo lugar, ele observa que todos podem receber encorajamento pela palavra profética (v. 3). (Comentário do Novo Testamento - 1 Coríntios - Simon Kistemaker)

A palavra «... todos...»indica, potencialmente, todos quantos já haviam recebido o dom profético. Mas nem todos eles, se o seu número fosse superior a três, poderiam falar em uma única reunião, conforme também o vigésimo nono versículo nos ensina. A palavra «todos», aqui usada, sob hipótese alguma pode significar que todos os membros da congregação possuam , em um grau ou o utro, o dom da profecia. Isso seria um a contradição com o trecho de I Cor. 12:29. E também entraria em contradição com a experiência humana sobre essa questão.
«... um após outro...»,observando a regra que fora baixada contrária à prática em que vários falavam ao mesmo tempo, assim causando confusão.
(Ver os versículos vinte e sete, vinte e oito e trinta e dois deste capítulo).
Cada profeta deve esperar por sua vez, respeitando os direitos que outros profetas têm de ser ouvidos. Isso expressa um bom senso bem elementar; mas o espírito de ostentação dos crentes de Corinto levara-os a ignorarem até mesmo o bom senso e a cortesia.
«... para todos aprenderem...»«A congregação dessa maneira aprenderia mais, tendo os pregadores a sua oportunidade; e os pregadores igualmente aprenderiam mais, ouvindo aos outros». (Robertson e Plummer,  in loc.).
«O resultado desse pleno exercício do dom profético seria que todos os membros da comunidade cristã encontrariam nutrição e satisfação para todas as suas necessidades intelectuais e morais, resultado esse que não poderia ser obtido se vários profetas falassem todos ao mesmo tempo». (Kling, in loc.).
«O discurso de um desses profetas poderia atender às necessidades de alguns ouvintes; e a mensagem de outro profeta se adaptaria ao caso de outras pessoas. Dessa forma, todos os ouvintes poderiam receber instrução e consolo». (Hodge,  in loc.).
«... consolados...»,isto é, «encorajados», «exortados», «animados». Esses são os vários sentidos possíveis da palavra empregada no original grego. (O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO VERSICULO POR VERSICULO - VOL.4. Corintos a Éfeso - Russell Norman Champlin)

2.2. Todos devem saber a finalidade?

1 Co 12. 14-20. A ilustração do corpo está desenvolvida nestes versículos, com ênfase sobre a diversidade dos membros, por causa dos aparentemente inferiores, que achavam que seus dons não eram importantes. O pensamento chave é: O corpo não é um só membro, mas muitos (v. 14), e os membros foram colocados no corpo, cada um deles como lhe aprouve (v. 18). Assim, os aparentemente inferiores não deviam invejar os aparentemente superiores. (Comentário Bíblico Moody – 1 Coríntios)

Ef 4.12 “... aperfeiçoamento dos santos...” (Quanto ao termo santos, que designa todos os crentes, ver as notas expositivas sobre Rom. 1:7). O próprio termo “santos” implica na necessidade de possuírem a santidade, o que, na linguagem neotestamentária, indica a participação na própria santidade de Deus Pai, e isso tanto como uma declaração forense, por decreto divino e por reconhecimento de sua posição espiritual em Cristo, quanto como um fato real; pois, sem essa santidade, ninguém será aceito perante Deus e nem poderá vê-lo (ver Heb. 12:14).
“... aperfeiçoamento...” Uma palavra perfeitamente comum em outros documentos escritos em grego, mas que aparece exclusivamente aqui, em todo o N.T. No original, grego encontramos o termo “katartismos”, que era usado para indicar a correção de ossos partidos, a restauração de algo ao seu estado primitivo, etc. A raiz dessa palavra é “artios”, que significa “completo”, “perfeito”, “totalmente adaptado”. A forma verbal, “katartidzo”, significa “restaurar”, “ajustar’, “pôr em ordem”, “reformar”. Isso subentende o fato de ficarmos cheios da plenitude de deidade, tal como ela se encontra na pessoa de Cristo, conforme aprendemos em Col. 2:9,10, uma doutrina extraordinariamente elevada. Mas esse é o único caminho para a perfeição, pois esta, segundo a sua própria definição, só pode aplicar-se ao Senhor Deus, pois somente ele é perfeito. É a mensagem profundíssima do evangelho que essa mesma perfeição é dada aos homens, de acordo com sua transformação segundo a imagem de Cristo, o qual, na qualidade de Verbo eterno encarnado, e que se identificou com os homens eternamente, primeiramente a experimentou em si mesmo, na qualidade de Deus-homem.
“... para a edificação do corpo de Cristo...” (Quanto ao conceito da “edificação do corpo de Cristo”, em seu soerguimento, fortalecimento e aprimoramento, ver as notas expositivas sobre Ef. 2:20-22). Essa edificação de ordem espiritual faz do corpo místico de Cristo um templo, habitado pelo Espírito de Deus, porque assim se torna lugar apropriado para sua residência. Tal como noutros lugares, encontramos aqui, nessa expressão, a combinação das idéias de edificação de um templo e de desenvolvimento de um organismo vivo, de tal modo que a edificação é, ao mesmo tempo, o crescimento de um organismo vivo. Essa mesma combinação aparece no trecho de Ef. 3:17, no que respeita ao fato da igreja ser ao mesmo tempo “arraigada” (como uma árvore) e “firmada” (como um edifício levantado sobre seus alicerces). A passagem de I Ped. 2:5 refere-se a esse templo espiritual como algo composto de “pedras vivas”; e isso também combina duas metáforas: a do estado de crescimento e de vida de um organismo e a de um edifício em formação. Ora, os dons ministeriais e espirituais têm por fito promover o crescimento, o bem-estar e a edificação, ou seja, o progresso e o desenvolvimento contínuos da igreja. É em tal progresso e desenvolvimento que a “unidade” será obtida. Tal unidade é em torno de Cristo, havendo também harmonia de uns com os outros. O crescimento e a edificação se expressam mediante o “processo de aperfeiçoamento”. (O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO VERSICULO POR VERSICULO - VOL.4. Corintos a Éfeso - Russell Norman Champlin)

2.3. Todos devem cuidar uns dos outros
1 Co 14.5 É possível que Paulo tivesse exagerado um pouco, ao depreciar aparentemente o dom de línguas. E essa possível falsa impressão ele corrige aqui. O dom de línguas tem o seu devido valor, e ele nada dissera capaz de diminuir esse valor. Ele tentara fazer os crentes de Corinto perceberem que eles é que tinham exagerado o seu valor, permitindo que a manifestação desse dom dominasse as suas reuniões; e o resultado desse domínio é que só se ouviam línguas incompreensíveis à razão, proferidas aqui e ali, com pouquíssimas palavras de exortação, de edificação e de consolo, em meio à confusão reinante.
Uma coisa se faz bem clara aqui, o dom de profecia é superior ao dom de línguas, porquanto a idéia inteira da adoração comunitária é a edificação da igreja inteira. Naturalmente, se houvesse intérprete, as línguas ocupariam o mesmo nível de importância da profecia; pois, nesse caso, visto que todos compreenderiam o que fora dito seria aproveitado pela comunidade o que falasse em línguas. Contudo, o vigésimo segundo versículo deste capítulo parece ensinar-nos o fato de que as línguas, mesmo quando interpretadas, e, por conseguinte, compreendidas, pelo menos no conceito de Paulo, ocupavam posição inferior à profecia. (Ver as notas expositivas sobre o citado versículo).
“... é superior...” Literalmente traduzidas do original grego, essas palavras seriam “é maior”. E isso porque aquele que profetiza fá-lo para ajudar a igreja inteira, nos termos descritos no terceiro versículo deste capítulo. O profeta é maior porque o seu dom espiritual segue mais de perto o grande ideal do amor, o qual se mostra sempre altruísta. O profeta é maior porque é maior aquele que é o servo de todos, no dizer de Marc. 9:35.
“... salvo se as interpretar...” Essas palavras subentendem que aquele que fala em línguas também recebeu o dom de interpretação. Mas essa declaração se aplicaria também no caso de outro ser o intérprete, e não o mesmo crente que fala em línguas. (Ver também I Cor. 12:10 e a introdução a esse décimo segundo capítulo, quanto a uma discussão acerca desse dom de “interpretação de línguas”). A interpretação, às vezes, era possuída pelo próprio indivíduo que falava em línguas; e, de outras vezes, era outro que possuía esse dom, conforme ficam subentendido nos versículos vigésimo sétimo e vigésimo oitavo deste capítulo.
“Esta passagem prova que o conteúdo desses discursos, feitos em línguas estranhas, eram edificantes; por conseguinte, não consistiam em mistérios, no mau sentido do termo, isto é, na forma de enigmas e declarações obscuras”. (Hodge, in loc.).
O desejo expresso por Paulo, no sentido de que todos os crentes falem em línguas, mostra-nos que esse apóstolo não depreciava tal dom; e também comprova que ele não escreveu estas instruções acerca do uso das línguas a fim de limitá-las, por ter sentido invejados que assim faziam, conforme alguns dos crentes coríntios poderiam erroneamente supor. O décimo oitavo versículo deste mesmo capítulo diz que Paulo falava em línguas mais do que todos os outros, e isso mostra que não havia razão dele ter inveja dos que assim faziam, visto que empregava livremente esse dom. Pelo contrário, Paulo escreveu estas palavras com o propósito de estabelecer aquilo que é melhor para a comunidade cristã, e não meramente a fim de expressar uma opinião acerca do valor comparativo dos dons espirituais. (O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO VERSICULO POR VERSICULO - VOL.4. Corintos a Éfeso - Russell Norman Champlin)

Embora Paulo julgue o dom da profecia superior em valor ao dom de línguas, ele modera sua própria avaliação com a expressão a não ser que. Paulo escreve “a não ser que ele a interprete, para que a igreja possa ser edificada”. Ele diz que o falar em línguas é aceitável, contanto que quem fala interprete sua mensagem. Ele não está dizendo que os profetas são os intérpretes.
Na verdade, pelo próprio capítulo não conseguimos saber quem são esses intérpretes. Num capítulo anterior Paulo havia mencionado tanto o dom de línguas como o dom de interpretação, e declarou que Deus concede esses dons a vários grupos de pessoas (12.28-31). O ponto que Paulo quer esclarecer é que, falar em línguas, quando interpretado, tem valor porque edifica os membros da igreja.
Paulo compara o profeta com aquele que fala em línguas e considera o profeta o maior dos dois. E qual é o sentido do adjetivo maior?
O mesmo adjetivo aparece em 12.31, onde Paulo escreve: “Mas ansiosamente desejem os dons maiores”. No último versículo do capítulo 12, entretanto, o apóstolo deixa de indicar quais são esses dons maiores. E, no presente texto, Paulo emprega o adjetivo maior somente para comparar o falar em línguas com profetizar. O próprio texto parece comunicar nada mais que uma mera comparação. Com respeito à comunicação eficaz que seja benéfica para o povo de Deus, não o profeta, mas as palavras do profeta são maiores porque edificam a comunidade cristã. E quando a congregação é edificada, então o princípio básico do amor prevalece.
Será que Paulo coloca a glossolalia interpretada no mesmo nível das palavras de um profeta? No Pentecoste (At 2.1-12), falar em lín-guas e pregar eram idênticos. Mas, em Atos, não lemos em nenhum lugar que havia a necessidade de intérpretes para traduzir as mensagens. Presumimos que na cidade cosmopolita de Corinto, para onde pessoas iam, vindas de muitos países, numerosas línguas eram faladas.
Também, alguns coríntios falavam em línguas e podem ter seguido a prática que talvez se tenha originado nos ambientes pagãos de onde os coríntios tinham vindo. Depois de sua conversão ao Cristianismo, não viam a diferença entre sua experiência de êxtase dos ambientes pagãos e o poder do Espírito Santo operando dentro da comunidade cristã.
Paulo não proíbe que falem em línguas (v. 39); ele quer que sejam receptivos a esse dom provindo do Espírito Santo e que o usem para edificar a igreja no contexto do amor. (Comentário do Novo Testamento - 1 Coríntios - Simon Kistemaker)

3. Ética na palavra prófetica
No tópico anterior, de certa maneira, já introduzimos este assunto, mas que em virtude da necessidade e ênfase bíblica precisamos penetrar em outros detalhes dele. Seja alguém na assembleia local ou um ministro que profetize há critérios éticos que devem ser observados, afim de impedir desordens e até indecências.

3.1. Procurando manifestar a presença de Deus
1 Co 14. 24,25 - Completamente diversa é a situação quando toda a igreja “fala profeticamente”. Agora Paulo antepõe enfaticamente, aos visitantes que entram o “incrédulo”. Porque nesse momento acontece algo precioso. Até a pessoa que até então rejeitava a fé “é por todos convencida, por todos julgada, tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face na terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato em (ou: entre) vós”. Paulo imagina o “falar profético” não como um sem-número de misteriosos oráculos proféticos e visões extáticas do futuro. Isso jamais teria exercido o impacto sobre o “incrédulo”, descrito por Paulo. Os que “falam profeticamente” falam também agora “com seu entendimento” e eles proferem “edificação, exortação e consolo” (v. 3). Fazem-no “com” sua razão e por isso em linguagem simples e inteligível. Não o fazem “a partir” de sua razão, mas a partir do Espírito Santo e sob a condução do Espírito. É por essa razão que o fazem de tal modo que o visitante seja atingido na consciência e ele veja seu íntimo descoberto e revelado, ficando diante da onipresença de Deus. Com certeza Paulo não imagina isso de tal forma que toda a igreja que profetiza “ataca” os dois visitantes com suas falas. Pelo contrário, a igreja realiza sua reunião para sua própria edificação. Porém, “falando todos profeticamente” acontece sem intenção deles e sem seu conhecimento e determinação diretos, que tudo o que é dito atinja o coração dos visitantes estranhos, levando a se prostrarem perante Deus. Agora compreendemos porque Paulo considera esse “falar profético” o dom mais importante e precioso do Espírito Santo. Unicamente esse dom é capaz de vencer os indoutos e até incrédulos, conquistando-os para Deus, acrescentando-os à igreja e “edificando” nesse sentido peculiar a igreja.
Justamente esse dom da graça do Espírito, por ser imprescindível, também foi preservado para a igreja em todos os tempos. Ainda que outros dons impressionantes, como cura de enfermos e falar em línguas, tenham retrocedido muito ou quase tenham desaparecido, a igreja constantemente e em todos os lugares teve homens e mulheres com “falar profético”. Por essa razão também sempre aconteceu, sob as mais diversas circunstâncias e das maneiras mais multiformes, aquilo que Paulo nos descreve nos  presentes versículos. Debaixo da palavra conduzida pelo Espírito houve pessoas que se descobriam escrutinadas até nas coisas mais ocultas de seu coração e sua vida e expostas à luz, experimentando a presença do Deus onisciente no Espírito Santo e chegando à fé.
Ao referir o testemunho do visitante interiormente vencido: “Deus está, de fato, em vós, no meio de vós” Paulo tinha em mente, involuntária ou muito conscientemente, textos bíblicos como 1Rs 18.39; Dn 2.47; Is 45.14; Zc 8.23. O que naquele tempo acontecia em episódios especiais repete-se agora, quando o Espírito está presente com seus dons, na igreja de Jesus. Nela isso se torna praticamente normal. Quando “todos” profetizam, acontece aquilo que Paulo descreve, podendo acontecer dessa forma diariamente. (Comentário 1 Coríntios - Esperança - Werner de Boor)

v. 32 No grego, a expressão o espírito dos profetas não tem os artigos definidos antes dos substantivos (mas ver Ap 22.6). No presente texto, a expressão provavelmente significa “os dons espirituais” dos profetas ou as “manifestações do Espírito” (ver v. 12). A primeira interpretação se harmoniza com a ordem anterior de Paulo: “esforcem-se diligentemente pelos dons espirituais” (v. 1). E a segunda explicação significa que nenhum profeta pode dizer que ele perde o controle de si quando recebe uma revelação. Cada pessoa que profetiza tem pleno controle de seus sentidos. Ninguém pode dizer que o Espírito Santo prevalece sobre a vontade do profeta de forma que o profeta aja contra sua própria volição. De fato, diz Paulo, Deus é um Deus não de desordem, e sim de paz. Deus não causa confusão, pois ele espera que o profeta mantenha a ordem controlando-se e também aos outros no culto. Na presença de Deus, todos os adoradores devem estar em paz uns com os outros. (Comentário do Novo Testamento - 1 Coríntios - Simon Kistemaker)

3.2. Mantendo a ordem no culto
a. Profetas. “E que dois ou três profetas falem.” Essa é a primeira vez que Paulo usa o substantivo profetas nesse capítulo (ver 12. 28,29; 14. 32,37). Nesse capítulo, ele usa repetidamente o verbo cognato profetizar, que em grego sempre aparece no tempo presente ou do indicativo, subjuntivo, particípio ou infinitivo (ver o comentário sobre 13. 9,10). Com o uso invariável do tempo presente, Paulo tem em mente mais a pregação regular e o ensino da Bíblia do que uma declaração profética ocasional. O que os profetas proclamam? Escreve Herman Ridderbos: “Os profetas são os proclamadores impelidos pelo Espírito que proclamam a Palavra de Deus à igreja, que descortinam o plano da redenção de Deus em Cristo num sentido pastoral e paraenético”. E qual é o objetivo da profecia? Paulo ensina que em Corinto a profecia é para edificar, encorajar e consolar os membros da comunidade cristã (v. 3). A mensagem das pessoas que profetizam deve estar em harmonia com a Palavra de Deus revelada ou provir dela. Se uma mensagem quer na forma de pregação e ensino ou como pronunciamento espontâneo, en-trar em conflito com os ensinos das Escrituras, ela não vem do Senhor. O profeta que pronuncia a frase “isto é o que o Senhor diz”, mas deixa de transmitir a Palavra de Deus, está falando não por Deus, mas por si mesmo. Ele é fraudulento e representa erradamente o Senhor. Na verdade, os falsos profetas nos dias do Antigo Testamento arriscavam sua vida quando pronunciavam mentiras (comparar com Dt 13.1-5).
b. Avaliação. “E que os outros façam a avaliação.” Quem são aqueles a quem se pede que julguem a pregação e ensino da Palavra? Alguns comentaristas acham que os demais profetas devem avaliar a profecia (ver v. 32, e 12.10). Outros são de opinião que os ouvintes, isto é, os membros da igreja, devam avaliar e ponderar a mensagem que é entregue (comparar com o v. 31). Muito se pode dizer a favor de qualquer uma das duas posições, mas o contexto todo parece indicar que os membros que ouvem as profecias devem ser os que fazem avaliação a respeito da palavra falada. Se as igrejas nos lares acomodavam no máximo trinta pessoas, a proporção de profetas numa dada congregação seria alta. Outros membros participavam em avaliar as mensagens.
Qual é o padrão pelo qual os ouvintes julgam as palavras de quem fala? Eles devem avaliar a mensagem do preletor de acordo com a Palavra de Deus. Como os bereanos examinavam as Escrituras todos os dias para ver se o ensino de Paulo estava em harmonia com a revelação de Deus (At 17.11; ver também 1Ts 5.21, Didache11.7 para exemplos semelhantes), assim eles deve pesar as palavras do profeta. Em outro lugar, Paulo exorta os crentes a que deixem a palavra de Cristo habitar neles ricamente (Cl 3.16); no ensino e na admoestação mútua, que as Escrituras sirvam como o padrão.
c. Revelação. “Mas se uma revelação vem a outro que está sentado, que o primeiro fique calado.” Essa sentença é interessante, pois declara que o preletor pode ser interrompido e silenciado quando alguém que está sentado recebe uma revelação. Paulo diz literalmente que “é revelado para outro que está sentado”, e em seguida dá instruções para um procedimento ordeiro. Mas o que ele quer dizer com o termo revelação? J. I. Packer deduz que “uma ‘revelação’ profética era uma aplicação da verdade sugerida por Deus que em termos gerais já fora revelada, em contraste com um esclarecimento ou revelação de pensamentos e intenções divinas não pré-conhecidas e não discerníveis por outro meio” A aplicação da Palavra de Deus que é revelada para uma pessoa sentada no auditório não pode ser colocada no mesmo nível da Escritura; falta-lhe a autoridade absoluta com a qual Deus distinguiu sua Palavra. No entanto, quando uma pessoa que recebe tal revelação a torna conhecida aos irmãos crentes, eles por sua vez devem sujeitar essa revelação aos ensinos autorizados das Escrituras. Além do mais, se uma pessoa recebe uma revelação na forma de uma predição, esse pronunciamento também precisa ser pesado e avaliado com base na Palavra de Deus.
d. Sequência. “Pois todos vocês podem profetizar um por um.” Paulo está dando orientações sobre o culto ordeiro; ele não diz que em qualquer culto todos têm a oportunidade de falar. Isso seria uma contradição flagrante à insistência de Paulo sobre a conduta ordenada. Com seu preceito de que dois ou três profetas podem se dirigir ao auditório, ele dá a entender que, no passar do tempo, cada membro da igreja poderá profetizar. O Espírito de Deus não só está no controle da profecia, mas também dá a certos membros esse dom específico a seu próprio tempo. O Espírito determina quando um profeta já teve tempo suficiente e precisa ceder seu lugar a outra pessoa.
e. Benefícios. “Para que todos possam aprender e todos serem incentivados.” Ao longo de todo esse capítulo especificamente, Paulo repete o conceito edificar, embora com palavras diferentes. Aqui ele diz que a pessoa que profetiza deve fazer isso de modo que todos possam aprender “conversando, perguntando, falando, escutando”. E, em segundo lugar, ele observa que todos podem receber encorajamento pela palavra profética (v. 3). (Comentário do Novo Testamento - 1 Coríntios - Simon Kistemaker)

29,31 A compreensão da frase seguinte não é fácil. Parece haver uma contradição entre a ordem de que “profetas devem falar apenas dois ou três” e a asserção “todos podereis falar profeticamente, um após outro” [tradução do autor]. A contradição somente se soluciona se considerarmos os “profetas” como pessoas distintas dos membros da igreja que “falam profeticamente”. Em vista desse “falar profético” Paulo podia conceber como uma situação desejada que “todos profetizem”, incentivando por isto os membros da igreja irrestritamente a buscar o dom do “falar profético”. Nesse caso não pode deixar que apenas dois ou três fizesse uso da palavra. Não, evidentemente existem “profetas” num sentido próprio, que por isso também aparecem na listagem de 1Co 12.28 como permanentemente incumbidos. Desse grupo definido, dois ou três devem usar da palavra em cada reunião da igreja. Reparamos na diferença entre os v. 27 e 29. Sobre o falar em línguas e sua manifestação Paulo fala apenas de maneira condicional: “No caso de alguém falar em línguas” e se houver a presença de um intérprete. Essas condições não ocorrem nos “profetas”. Eles foram concedidos à igreja com toda a certeza, motivo pelo qual estão presentes e “devem” falar. Obviamente também deles falem apenas dois ou três, “e os outros julguem (o que é dito)”. Na palavra “outros” pensamos em primeiro lugar em todos os demais “profetas”, além daquele que está falando no momento; são especialmente convocados para um julgamento assim. 1Ts 5.20s revela, porém, que Paulo considera a igreja toda fundamentalmente autorizada e comprometida, pelo Espírito Santo que nela habita, a “examinar” os profetas e suas afirmações.
Por consequência, é possível que também na presente passagem Paulo entenda por “outros” os membros da igreja em si. Nessa instrução não é mencionado o dom especial do “discernimento dos espíritos”. Tudo está sendo visto de maneira bastante livre e viva, sem uma fixação sistemática. (Comentário 1 Coríntios - Esperança - Werner de Boor)

40 A exigência incondicional é que nada aconteça em confusão descontrolada e que não se atue de forma egoísta e sem amor, mas que “tudo seja feito com decência e (boa) ordem”. Isso, porém, também já é o bastante. O apóstolo não prescreve uma “ordem” determinada, que seria a única correta por motivos dogmáticos ou litúrgicos. Vale a livre atuação de Deus pelo Espírito Santo. Como ele poderia ser capturado em ordens prescritas? Com toda a certeza, porém, “o Deus da paz” deseja conduta conveniente e boa ordem.
Tudo que é desregrado, descontrolado e impulsivo é caracterizado de antemão como não divino. Na frase final do grande bloco destaca-se mais uma vez o que ficou explícito para nós acima, p. 228s, sobre a importância abrangente da decisão de Paulo na questão dos dons do Espírito. (Comentário 1 Coríntios - Esperança - Werner de Boor)

3.3. A humildade dos que profetizam
As Raízes Da Confusão
1. Quando os homens substituem a edificação espiritual pelos interesses próprios e pela ostentação, necessariamente passa a imperar a confusão espiritual, em resultado. Isso foi o que aconteceu em Corinto.
2. Um homem qualquer falava em línguas, profetizava e tomava o tempo restante com sermões longos e supostamente piedosos, não permitindo a p a rtic ip a ç ã o de outros. Esse indivíduo estava servindo a si mesmo, procurando o louvor e o reconhecimento alheios, como se fora o ator de um teatro. Isso é confusão, e não edificação!
3. A simulação dos dons espirituais (pois quem diria que o Espírito Santo é quem inspirava o que aquelas pessoas faziam?) achava-se na raiz da confusão que imperava na igreja de Corinto.

Imaturidade Espiritual
1. A imaturidade espiritual se evidencia no egoísmo (ver Rom. 15:1), pois o amor é a verdadeira medida de nossa maturidade. Estás servindo a ti mesmo mais diligentemente do que ao próximo? Nesse caso, é um crente espiritualmente imaturo. A tua maturidade pode ser aquilatada pelo quanto serves aos outros.
2. Os crentes de Corinto demonstravam sua imaturidade ao transformarem a igreja em um teatro, onde os dons espirituais entravam em competição uns com os outros. Isso era destrutivo para a unidade e a paz, e, por conseguinte, para o desenvolvimento espiritual.
3. Os crentes coríntios, em surpreendente ausência de santificação, demonstravam a sua imaturidade quando, o tempo todo, se vangloriavam de seu grande avanço. (O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO VERSICULO POR VERSICULO - VOL.4. Corintos a Éfeso - Russell Norman Champlin)

Rm 12.6 “... segundo a proporção da fé...” Visto que essa expressão é um tanto obscura, tem ela recebido certa variedade de interpretações, com o segue:
1. Alguns pensam que se trata da fé subjetiva. Diz Tholuck (irt lo c .): «O profeta se mantém dentro dos limites de seu dom profético, que lhe é atribuído pela sua individualidade». Essa interpretação inclui igualmente a idéia de sua própria «receptividade», ou seja, com o ele se entrega para se instrumento para o exercício de seu dom. Cada homem tem certo desenvolvimento em sua espiritualidade. Portanto, cada qual exerce o seu dom de conformidade com seu desenvolvimento espiritual, e isso de conformidade com a sua «proporção da fé», ou seja, com a proporção de seu desenvolvimento espiritual, no que diz respeito à função de seu ofício.
Ainda um a subcategoria dessa fé subjetiva é aquela idéia que diz que, para cada qual Deus tem determinado certa medida da «graça» da «fé», ou seja, da dotação espiritual, em que cada indivíduo labora de conformidade com a mesma. Isso concorda com o terceiro versículo deste capítulo, bem como com a idéia geral de havermos recebido alguma medida da «graça», que nos capacita a ministrar, devendo ser reputada como parte da idéia aqui tencionada. Não obstante, essa «graça» não se mostrará eficaz a menos que seja exercida com fé pessoal, e de acordo com o desenvolvimento espiritual do indivíduo, que depende do princípio da fé. Por essa razão é que disse Meyer (in loc.)׳.   «...de acordo com a força, a clareza, o fervor e outras qualidades da fé que lhes tiver sido outorgada ; de tal modo que o caráter e o modo de falar se conformem com as regras e os limites que são subentendidos na proporção de seu grau individual de fé».
2. Outros estudiosos preferem pensar na é objetiva, isto é, pensar haver aqui alusão à regra das Escrituras ou revelação divina, a regra ou padrão de doutrina cristã, que é a autoridade seguida pela igreja cristã, dependendo do ponto de vista do intérprete. Essa seria a «analogia fidei», ou seja, o padrão de revelação, especialmente aquele exibido nas Sagradas Escrituras.
E isso significa, por sua vez, que as profecias transmitidas por meio de quem quer que seja devem conformar-se a esse padrão, não ultrapassando do mesmo.  Paulo realmente apelou para certos cânones fundamentais da verdade, se não mesmo a confissões eclesiásticas formais, aplicadas às doutrinas neo-testamentárias; e com frequência esse apóstolo citava o A.T. como documento autoritativo. (Quanto aos «cânones fundamentais da verdade, segundo Paulo», ver as notas expositivas sobre Gl. 1:8; 6:16; Fl. 3 :1 6 ; II Tm . 3 :1 5 ,1 6 ). Não obstante, não podemos incluir aqui a «autoridade eclesiástica», ou mesmo algum cânon de fé estabelecido pelo homem no N.T., conforme alguns intérpretes de tendências mais eclesiásticas gostariam de fazer-nos crer, porque, ao tempo em que Paulo assim escreveu, não havia essa autoridade estabelecida no seio da igreja neo-testamentária, além do fato que o cânon  do N.T. estava longe de ficar completo. (O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO VERSICULO POR VERSICULO - VOL.3. Atos a Romanos - Russell Norman Champlin)

CONCLUSÃO
Todos devem buscar com zelo o dom de profetizar, posto que pela graça tal manifestação é amplamente acessível aos membros do corpo de Cristo. Enquanto a Igreja estiver neste mundo, ela manifestará a sabedoria de Deus através dos dons que poderão ser exercidos por fé e pela manifestação que for concedida a cada um para proveito geral.





Fontes:
Bíblia Sagrada – Concordância, Dicionário e Harpa - Editora Betel,
Revista: VIDA CRISTÃ VITORIOSA – Editora Betel - 1º Trimestre 2013 – Lição 06.

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